Um dos principais problemas enfrentados atualmente nos ambientes naturais é a invasão causada por espécies exóticas, que podem causar desequilíbrio ecológico, danos econômicos e trazer riscos para a saúde pública. Estas invasões são causadas pela interferência humana, através do transporte destas espécies de seus locais de origem para novas localidades, geralmente com objetivo de uso agropecuário ou ornamental. Quando estas espécies, que têm alta capacidade de se adaptar ao novo ambiente e não encontram predadores ou concorrentes em busca de alimento, fogem do controle humano por falta de manejo adequado ou abandono, acabam se instalando definitivamente no novo local, podendo causar vários impactos.
No litoral do Paraná há o registro de diversas espécies exóticas invasoras, como é caso do pinus, braquiária, lírio-do-brejo, beijinho, bagre-africano, pombo-doméstico e caramujo-gigante-africano, entre outras.
Caramujo-gigante-africano adulto. Foto: Carlos Birckolz
O caramujo-gigante-africano (Achatina fulica) é um dos casos mais emblemáticos encontrados no litoral do Paraná. Esta espécie foi introduzida no Estado aproximadamente no ano de 1988, através de uma inciativa de se criar mais uma fonte de renda para os agricultores, incentivando a criação destes animais, que se adaptam melhor a regiões quentes e tem maior porte que o escargot (Helix aspersa – originário da Europa). Porém, como o mercado consumidor deste tipo de produto no Brasil é muito restrito, as criações não se mostraram economicamente viáveis e os animais foram indevidamente soltos na natureza.
Atualmente o caramujo-gigante-africano é encontrado praticamente em todo litoral paranaense, principalmente em áreas urbanas. Ele causa sérios prejuízos para a agricultura, pois consome verduras e leva a grandes perdas em hortas e lavouras. Também pode causar problemas de saúde pública, já que pode ser hospedeiro intermediário de um verme que causa angiostrogilose abdominal e meningoencefálica, doenças que podem provocar sérios distúrbios no sistema digestivo ou no sistema nervoso, dependendo do local onde o parasita se instalar. No entanto, apenas dois casos da doença foram confirmados para o Brasil desde a introdução do caramujo africano.
Do ponto de vista ecológico, o caramujo-gigante-africano compete com as espécies nativas e leva grande vantagem devido à sua enorme capacidade reprodutiva e à facilidade em se adaptar a ambientes alterados, características que lhe conferem grande potencial invasor.
Jatutá (espécie nativa) adulto e filhote. Observe que a cor da concha pode variar, mas a parte mole é sempre a mesma. Foto: Carlos Birckolz
A espécie nativa mais conhecida e encontrada em praticamente todo litoral do Paraná recebe os nomes de caramujo-branco, jatutá ou aruá (Megalobulimus paranaguensis). Essa espécie é menos abundante que o caramujo-gigante-africano, e vem sofrendo com a perda de habitat, motivada principalmente pela urbanização desenfreada que vem ocorrendo nas últimas décadas. Além disso, a reprodução da espécie nativa é bem mais lenta que da espécie exótica: enquanto que um único indivíduo da espécie exótica, dependendo das condições climáticas, pode por mais de mil ovos por ano, um exemplar da espécie nativa põe, no máximo, dez ovos somente durante a primavera e verão.
O Instituto Ambiental do Paraná (IAP) incentiva a eliminação do caramujo-gigante-africano através de controle manual. Porém, neste procedimento, além das precauções para evitar o contato direto com o caramujo, deve-se tomar muito cuidado para não eliminar também as espécies nativas de moluscos. As principais diferenças entre as duas espécies podem ser observadas nas conchas dos animais, na coloração da parte mole, no tamanho dos ovos e em alguns aspectos do comportamento. Veja o quadro abaixo:
Características
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Caramujo-africano
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Jatutá (espécie nativa)
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Formato da concha
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Espiral cônica, alongada, sem lábio na abertura
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Espiral oval-cônica, pouco alongada, com lábio na abertura
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Cor da concha
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Marrom escura com listras esbranquiçadas
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De marrom até branca
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Cor da parte mole
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Marrom escura
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Creme esverdeada
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Tamanho dos ovos
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Pequenos
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Grandes
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Comportamento
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Costuma repousar em pontos altos, como muros e troncos de árvores
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Repousa geralmente sobre o chão ou enterrado no solo
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Conchas do caramujo-gigante-africano (esq.) e do caramujo-branco ou jatutá (dir.). Foto: Carlos Birckolz
Ovos do caramujo-gigante-africano (esquerda) e do caramujo-branco ou jatutá (direita). Foto: Carlos Birckolz
A principal forma de controlar o caramujo-gigante-africano se dá através da coleta periódica dos animais e manutenção dos terrenos sempre limpos. Durante as coletas, recomenda-se o uso de luvas ou sacos plásticos nas mãos para evitar o contato direto da pele com o caramujo ou seus ovos. Devem-se recolher todos os animais e ovos em um balde ou outro recipiente e eliminá-los colocando água sanitária, sal ou cal no recipiente onde foram recolhidos. Depois da morte de todos os animais, estes devem ser enterrados em buraco de pelo menos 50 cm de profundidade.
Nunca colocar os animais vivos dentro de sacolas plásticas para serem levados pela coleta de lixo, pois os animais conseguem comer plástico e fugir, desta forma o problema apenas será transferido para outro local. Também se deve evitar jogar sal diretamente no solo na tentativa de sacrificar os caramujos, pois esta prática causa a salinização do solo e impactos aos microrganismos e invertebrados que ali vivem.
A criação de caramujo-gigante-africano é proibida em todo território nacional, conforme Instrução Normativa IBAMA nº 73/2005.
Texto e fotos: Carlos João Birckolz
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